Consulta Psicoespiritual (Taroterápico)

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

MANIFESTO INVISÍVEL - 1.2.2 - IGREJA INVISÍVEL (TESE INVISÍVEL): FÉ, ARTE E CIÊNCIA NA PÓS –MODERNIDADE (CONJECTURA DA SAÚDE MENTAL PORVINDOURA)

1.2.2        Manifesto Invisível

Um de nossos fundadores o  Dr. Felipe Doutel, que além de médico psiquiatra é também poeta e escritor, nos presenteou com este manifesto invisível em que descarrega energeticamente através da poesia sua frustração com a realidade em que vivemos:

“IGREJA INVISÍVEL (ii)
Ñ.F.A.Q. (ou, perguntas que não se fazem freqüentemente)

A Igreja Invisível (ii) gostaria que se estabelecesse, de uma vez por todas, o catálogo das necessidades básicas do homem (e da mulher, a fortiori) pós-contemporâneos: a poesia, a putaria, o cinema, a magia? e que se providencie um enterro digno do sujeito moderno ocidental. Vai se coçar no tédio da culpa seu feladaputa! Seja salvo por si, seja salvo por nada, aliás, não fique aí parado esperando a salvação! Psique-sexy-cine ou barbárie.
Nós, da ii, não viemos para pôr os pingos nos iis, viemos, isso sim, para confundir. Como Abelardo Barbosa. É absolutamente necessário que o delírio volte a fazer parte da Teoria do Conhecimento, pela simples razão de ter sido a Razão contratada por grandes agências publicitárias e o Sexo, descaroçado de sua matriz subversiva. O pensamento delirante (o sexo [a arte perversa] virtual) remodela.
A poesia precisa voltar a fazer parte do currículo dos lactentes islamofóbicos: "O Estado mantém as pessoas ocupadas em tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, poeticamente, libertariamente". Profetas do surfe, camelôs-autistas, motoristas de topique, traficantes de relíquias soviéticas, grafiteiros e pregadores do Largo da Concórdia devem fazer parte do complexo industrial-militar e serem distribuídos junto com os retratos de esposas desaparecidas ? há muitas crianças brincando em ruas distantes.
Assumimos os renegados notórios oriundos da deriva dos continentes, a falta de mapas que nos guiem até aos sebos e bocadas, nas traquitanas e bibocas, com nossos trutas e quebradas, rumo aos dédalos da cidade para se internar no auto-engano. Importa distrair do lento absolutismo da morte, ressalvar os exercícios calistênicos na Cocanha, viver de juros na Serra de Makunaima, etc., etc. O hilari-lari-ê é o único lugar em que (ainda) se pode pleitear uma revolução matricial.
Cadáveres empulhados, necessitamos das fábulas do poder e continuamos, cheios de antolhos e adiamentos, avançando na base do quebra-cangalha como se fosse possível chegar a alguma letargia. Acreditamos ver porque um voile nos cegou para o real telescopado, insuportável e mesquinho que assombra os intervalos comerciais. Defendemos os direitos da ficção xamânica e da arte débil mental como ferramentas cognitivo-emotivas muito usadas em comunidades de estetas mórbidos. Mythoplokos.
Mas é Sancho Pança o propositor: pacato cidadão comum a bordo da sua persona enlouquecida, parangolé-quixote de fazer sexo celibatário (obrigado, Gregório Delgado[1]), máscara da vontade de se atirar, aventurar-se ao mundo. VIVA O MUNDO IMAGINÁRIO!!! Caminhamos nus pelo meio do sonho em pêlo, cartazes masoquistas asseguram que nada vai cambiar e que a roda de samba acabou... Se houver um terremoto, que ele nos devolva a névoa e indique o caminho dos furacões, que nos seja permitida uma música com descontinuidades e que o ratatá das Kalashnikovs acelere o advento da Comunhão Vegetal. E, se quiserem nos matar, que seja na mesa de bar, que seja de amor.
Portanto, exigimos em caráter irrevogável:
cessação imediata dos programas de humilhação & televendas obsessivo-compulsivas
a descoberta de um antídoto africano para a servidão voluntária
a cura academicista para a covardia moral da sociedade "de bem" que seja princípio ativo de alguma planta nuclear
que os órgãos competentes publiquem nos suplementos dominicais a resolução do enigma do fetiche
uma loura defecadora de objetos de fascínio consumista, secretária trilíngüe que compreenda a dramaturgia esquizocênica
veículos mudos, migalhas & sibilas adeptas da Realpolitik, instaladas, como as câmeras de vigilância, em pontos estratégicos dos logradouros lésbicos
veículos de manipulação de massas anabatistas que propaguem a perda da fé política e a hierarquia que nos obriga a reconhecer um Eu supremo dentro das nossas mais íntimas propriocepções fenomenológicas
Seja salvo por si. Ou não.
Uma prática que define a maneira clássica é a tara fascista contida no senso de proporção, a construção de uma harmonia indutora de simetria, com resolução final em happy end dos conflitos de um determinado motivo. A arquitetura do estilo simula e recapitula, assim, a tirania da dialética: tese, antítese e síntese redentora. A conta do chá para que o vírus da escatologia se instale nos mais lúridos meandros da masturbação órfica.
Fórmulas de sucesso não se jogam fora por dá cá aquela palha... A aposta metafísico-teológico-propagandística em jogo é nada menos do que a possibilidade de conjugar o monoteísmo egípcio/caldeu/hebraico com o Logos greco-romano. Um pupurri da baba histérica canibal do homem branco. Na perspectiva civilizada, o olho universal contempla o mundo a partir do segundo degrau da escada na qual D'us (eks arkhês) está no topo ? dervixes rodopiantes, e até mesmo um cortejo de idéias claras e distintas, convergem em sua direção.
Recusamos a experiência COMPLETA do objeto artístico, ou seja, a apreciação da totalidade daquilo que é entregue à fruição dos sentidos; o que oferecemos são parcialidades, sombras, desregramento e fragmentação onde antes havia uma vivência solar, auto-centrada, integral e integradora (assim nas artes como nas ciências, vigora a perversa eficiência operatória da técnica).
Acredite vindo (thank you for coming) ii!!
O "bom" Diabo e o Deus "mau" são a defesa iluminista do novo, e pragmático, Pacto que reconfigura a antiga, a Santa (!) Aliança ? as injunções da divina providência foram privatizadas pela ética calvinista, abolindo as mediações do ego com as forças atuantes no seu destino biológico-biográfico. A burguesia inventou o veneno necessário da modernidade e agora nem o sexo anal é capaz de derrubar o das Kapital.
Um burguês nunca é suficientemente crente nem ateu, bom ou mau: o burguês é um pelintra que calcula e sabe tirar proveito das próprias e alheias contradições ? por isso sobreviveu como atitude ideológica dominante do Homo sapiens (?) sapiens (?) no quadro do capitalismo tardio. O sujeito burguês perdeu a sombra e vendeu a alma, mas, em compensação, assumiu até às últimas conseqüências a destruição como causa do devir; ele distingue e corrói tudo o que o seu desejo toca, o seu gosto massificado representa o beijo da fama e da morte para qualquer estética, filosofia ou arte. A burguesia instituiu também, paradoxal e coerentemente, a única verdadeira democracia para a criação e o pensamento; a burguesia não é uma classe social, é um programa de (auto) destruição por meio da saturação do visível.
Não existe uma verdadeira manifestação anti-burguesa, TUDO pode ser digerido por Baal Melkart, o deus-mercado ? inclusivemente a ii, porque nada se perde nas cloacas da Kultur. Mais civilização, mais corrupção, já que evoluir também implica regressão aos ritos do fogo e da febre, ao sacrifício sagrado: Nosso Senhor da Boa Guerra sofre da invencível volúpia do sangue derramado. Vocês não vão saber do lixo ocidental?
Fizemos uma opção inconclusa: NÃO CIVILIZAR O OLHAR; não é no apuro formal, no domínio de uma ou mais linguagens que acharemos guarida, não, seguimos a descoberto, na arte como na vida. Subtraímos do respeitável público a panorâmica apaziguadora, o plano-seqüência, o corte cai antes que se feche o arco do entendimento ? e nisto reside o que chamamos de cinedinâmica autista?, jamais a facilidade de uma totalização, a inteireza de um signo em sua completude arbitrária, mas a imagem fria da mercadoria-espetáculo.
Nossos aliados são os traidores, os ressentidos, aqueles que se encontram faltos de predicamento: a fratria do fundo do mar, a fauna do fim deste mundo e dos outros; o escambo impossível que circula a moeda da GENEROSIDADE. Quebrá-lo é deslindar o fluxo de trocas, interromper a teia solidária, ceder à banalidade violenta da mais-valia como se fosse a um instinto. Atravessamos dimensões de gratuidade e insignificância, cultivamos o senso de urgência em alterar estados de coisas e modos de consciência. Ou não. Há muitos invernos de espera no exílio da invisibilidade e, já que ninguém se dispõe a liquidar os anões-atores, que sejam eles os colossos do circo de pulgas... Nem cabeça de rato, nem rabo de leão, banhamos Oxalufã em água fresca/limpa, queremos um outro mundo porque não vamos ter outra vida depois.
É melhor você viver sem saber quem você é.” [2]

Percebe-se claramente neste manifesto invisível uma liberdade de expressão no jogo de palavras, pautada por uma ótica de coragem e bravura. Encontramos neste manifesto poético uma forma de se expressar sem muito se importar com o interlocutor, este raciocínio semelhante ao da “Música Autista” que é também desenvolvida por nós; uma forma clara de livrar-nos de nossos fantasmas e em contrapartida para quem o aprecia gera uma forte reflexão de seus papéis. O interessante neste caso, é que esta reflexão é gerada também para o leitor que não aprecia o manifesto.


PIRES. D.B.M. - (Nome sannyas: Deva Rafik)
FOTO: FILIPE DOUTEL




[1] Disponível em < https://www.youtube.com/watch?v=zfpxOz7XYiM > Acesso em 20 out 2014.
[2]  DOUTEL, Felipe. IGREJA INVISÍVEL (ii) Ñ.F.A.Q. (ou, perguntas que não se fazem freqüentemente). São Paulo, 2005. Disponível em <http://revistalowcultura.blogspot.com.br/> Acesso em 26 dez 2009.

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